Os portugueses começam a perceber o que lhes caiu em cima: um orçamento cruel mas necessário, na sequência da irresponsabilidade e negação do Governo. Porém, ainda não sabem quem faria diferente.
A nomeação de uma equipa negociadora para a qual o PSD designou Eduardo Catroga, confirma o que sempre aqui se disse - o OE vai passar. É, pois, altura de questionar a razão de tanta trapalhada e o porquê de Sócrates continuar com a popularidade em alta, apesar da política irresponsável e errada com que conduziu o país.A forma benéfica com que o eleitorado olha Sócrates está diretamente ligada à relativa indiferença com que é visto Passos. Os portugueses ainda não vislumbram quem faça diferente do atual Governo.Sabe-se que Manuela Ferreira Leite tinha toda a razão no diagnóstico - e antes dela Cavaco Silva (lembro declarações que me fez em Belém há mais de dois anos e publicadas no Expresso). Mas ainda assim nada indica que, estando o PSD no poder, a situação atual fosse diversa. Os dois partidos têm sido demasiado parecidos (no modo de governar, na nomeação de boys, na defesa de privilégios inúteis) para que o eleitorado ache fundamental passar de um para o outro. CDS, PCP e BE, embora aumentem a votação, não são vistos como solução de poder estável e confiável. Resta a fuga para a descrença no sistema, o que, infelizmente, se verifica.Se Passos queria inovar e ter uma nova imagem, entende-se a sua relutância em se associar a este orçamento e a este Governo. O que já não se compreende é a recusa do PSD em dizer que orçamento faria. Ao não o deixar claro, cria a ideia de que apresentaria algo muito semelhante, se não igual, tanto mais que na opinião pública reina o convencimento de que boa parte das medidas é ditada por Bruxelas, pela banca, por especuladores, por agências derating, ou por todos juntos.Passos insistiu (neste ponto com razão) que o Governo é que tem de fazer o OE, mas vai acabar a discutir minudências. Discutindo, associa-se ao monstro que aí vem, o qual sendo necessário, não deixa de ser monstruoso.Passos poderia, pelo menos, adiantar como seria com o seu governo - Menos ministérios? Menos prebendas e propaganda? Mas também não o faz.O PSD deve ser claro sobre o que faria nas atuais circunstâncias e o que fará no poder, caso queira ganhar a credibilidade necessária para mobilizar o eleitorado.Passos não se pode limitar a ser como o deputado brasileiro Tiririca, cujo único programa foi a frase "pior do que está não fica".Que pior não fica, os eleitores já perceberam (seria até difícil ficar pior). Mas precisam de saber o que melhoraria, o que tornaria o país diferente deste pantanal em que estamos. Se Passos não o fizer, não só desilude como contribui para o descrédito total do sistema democrático em que vivemos. Henrique Monteiro (Expresso).
http://aeiou.expresso.pt/henrique-monteiro=s23489
Que pior não fica, os eleitores já perceberam (seria até difícil ficar pior). Mas precisam de saber o que melhoraria, o que tornaria o país diferente deste pantanal em que estamos. Se Passos não o fizer, não só desilude como contribui para o descrédito total do sistema democrático em que vivemos.
Henrique Monteiro (Expresso).