outubro 31, 2010

Portugal, Passos e Tiririca

Os portugueses começam a perceber o que lhes caiu em cima: um orçamento cruel mas necessário, na sequência da irresponsabilidade e negação do Governo. Porém, ainda não sabem quem faria diferente.

A nomeação de uma equipa negociadora para a qual o PSD designou Eduardo Catroga, confirma o que sempre aqui se disse - o OE vai passar. É, pois, altura de questionar a razão de tanta trapalhada e o porquê de Sócrates continuar com a popularidade em alta, apesar da política irresponsável e errada com que conduziu o país.
A forma benéfica com que o eleitorado olha Sócrates está diretamente ligada à relativa indiferença com que é visto Passos. Os portugueses ainda não vislumbram quem faça diferente do atual Governo.
Sabe-se que Manuela Ferreira Leite tinha toda a razão no diagnóstico - e antes dela Cavaco Silva (lembro declarações que me fez em Belém há mais de dois anos e publicadas no Expresso). Mas ainda assim nada indica que, estando o PSD no poder, a situação atual fosse diversa. Os dois partidos têm sido demasiado parecidos (no modo de governar, na nomeação de boys, na defesa de privilégios inúteis) para que o eleitorado ache fundamental passar de um para o outro. CDS, PCP e BE, embora aumentem a votação, não são vistos como solução de poder estável e confiável. Resta a fuga para a descrença no sistema, o que, infelizmente, se verifica.
Se Passos queria inovar e ter uma nova imagem, entende-se a sua relutância em se associar a este orçamento e a este Governo. O que já não se compreende é a recusa do PSD em dizer que orçamento faria. Ao não o deixar claro, cria a ideia de que apresentaria algo muito semelhante, se não igual, tanto mais que na opinião pública reina o convencimento de que boa parte das medidas é ditada por Bruxelas, pela banca, por especuladores, por agências derating, ou por todos juntos.
Passos insistiu (neste ponto com razão) que o Governo é que tem de fazer o OE, mas vai acabar a discutir minudências. Discutindo, associa-se ao monstro que aí vem, o qual sendo necessário, não deixa de ser monstruoso.
Passos poderia, pelo menos, adiantar como seria com o seu governo - Menos ministérios? Menos prebendas e propaganda? Mas também não o faz.
O PSD deve ser claro sobre o que faria nas atuais circunstâncias e o que fará no poder, caso queira ganhar a credibilidade necessária para mobilizar o eleitorado.
Passos não se pode limitar a ser como o deputado brasileiro Tiririca, cujo único programa foi a frase "pior do que está não fica".
Que pior não fica, os eleitores já perceberam (seria até difícil ficar pior). Mas precisam de saber o que melhoraria, o que tornaria o país diferente deste pantanal em que estamos. Se Passos não o fizer, não só desilude como contribui para o descrédito total do sistema democrático em que vivemos.
 Henrique Monteiro (Expresso).

http://aeiou.expresso.pt/henrique-monteiro=s23489

2 comentários:

Black disse...

Eu gostava que o Socrates nos informasse para vao aqueles milhoes que nao aparecem com destino defenido no OE. Nao adianta mas vou esperar que ele esclareça...

Anónimo disse...

mas ainda alguém espera alguma coisa dos portugas? o que querem éviaro disco e toca o mesmo....ter medo da mudança é pactuar com o poder instalado; depois... choram e passam o tempo a lamuriar-se.
C.Almeida